Acompanhada do primeiro secretário de Direitos Humanos do país, Alexander Eriksson, Karin Wallensteen esteve na Etec Parque da Juventude para conhecer o museu
Construída no antigo pavilhão quatro da penitenciária, Etec Parque da Juventude abriga o Espaço Memória Carandiru | Foto: Divulgação
Do vão central da Escola Técnica Estadual (Etec) Parque da Juventude já se vê o portão com 300 quilos de ferro. É Portão da Divineia, apelido dado pelos detentos à primeira visão que tinham na entrada ou saída do Complexo Penitenciário do Carandiru. Com até 9 mil moradores, a prisão se autodefinia como Cidade, com moradores, e um idioma próprio, a Gíria.
Foi sobre essa forma de moradia que a fotógrafa inglesa radicada no Brasil, Maureen Bisiliat, se debruçou para montar o acervo do Espaço Memória Carandiru. Depois de duas décadas colecionando imagens e peças, a artista cedeu a coleção à Etec que ocupa o antigo Pavilhão Quatro, preservado da demolição da penitenciária, em 2002 (Veja o vídeo)
“Maureen fazia diversos trabalhos artísticos dentro da penitenciária, distribuía câmeras fotográficas e filmadoras para que os detentos registrassem seu dia a dia. Ela também coletava as artes que eles produziam. Sempre houve muita preocupação em manter essa memória”, conta a historiadora e museóloga Cecília Machado, professora do curso técnico em Museologia da Etec Parque da Juventude e responsável pelo espaço.
Para conhecer essa memória, a embaixadora da Suécia, Karin Wallensteen, e o primeiro secretário para Direitos Humanos, Alexander Eriksson, viajaram de Brasília a São Paulo. Em um roteiro ligado a preservação dos direitos humanos, o Espaço Memória Carandiru impactou.
“É uma história muito dolorosa, mas que precisa ser conhecida e preservada. O Brasil hoje é mais cuidadoso com os direitos humanos, mas não pode deixar de olhar para as ‘quebradas’ diz a embaixadora Karin Wallensteen.
Mesmo com o português apurado, os suecos foram surpreendidos pelo novo uso que os detentos davam ao idioma. Conheceram o Bonde, o transporte que levava aos julgamentos, a Bigorna, uma chapa de ferro aquecida com resistência elétrica para esquentar água para banho. Descobriram que Faxina era a liderança do presídio, e Depósito era o Pavilhão Nove, o mais lotado.
“As celas do Pavilhão Nove recebiam até 40 presos em um espaço que caberiam no máximo 4, muitos ainda sem julgamento”, conta a professora.
Jumbo era a comida, Gambiarra, o fio emendado. O Pavilhão Cinco era espaço de trabalho, chamado de Fábrica, de pipas ou de facas, como as expostas ali. Pavilhão Dois era a Triagem, o Quatro chamado de Enfermaria, onde estamos agora. As portas de celas foram trazidas de outros pavilhões, com suas pinturas e textos.
“Não é uma memória penitenciária simplesmente, é uma memória antropológica. O local mostra como viviam, moravam, comiam, dormiam, riam e choravam os homens que viveram aqui. Não é sobre crimes ou punições, mas sobre uma história que não pode se perder”, afirma Cecília.
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